Quase um crime

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Bota na conta do Freud

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[edição extra #3] Seria o narrador um morto dentro de nós?

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Danielle Sousa
mai 12, 2025
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As edições extras são textos que falam sobre processo de escrita e ficções. São exclusivas para os assinantes pagos então, em algum momento, você deve encontrar o cadeado. Desculpem, mas a escritora independente precisa se manter.

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Até breve.


A psicologia do narrador está na seção das Palestras de Łódź em Escrever é muito perigoso, da ganhadora do Nobel Olga Tokarczuk. Foi por essa palestra que comecei o livro porque a escolha de um narrador sempre foi meu calcanhar de Aquiles: quem irá contar essa história que me assombra, não raro me pego pensando.

Todavia, 2023

A escolha do narrador me trava porque se não bem pensado ele pode prejudicar uma boa história. É o ponto nevrálgico do texto já que é através dele que o leitor terá acesso a trama e ela muda se muda o narrador, mesmo que se conte a mesma história.

É complexo.

Veja Memórias Póstumas de Brás Cubas. Se não o próprio morto a contar sua vida e morte!, o que sobraria? Aliás, Machado tinha a manha de escolher bons narradores e, bem, o que quero dizer é: escolher a voz certa para a história que se quer demanda pontos de sangue da escritora.

Olga começa dizendo que:

Aquilo que fala dentro de nós, o narrador, não se encaixa muito bem na forma do meu “eu”. Mesmo que seus contornos sejam supostamente iguais, ele às vezes transbordava, apossando-se de espaços livres do “eu”, lugares periféricos, fronteiriços, da existência, dos quais eu não fazia ideia.

Que voz é essa, ela se pergunta, que se espalha além do Eu? E aí ela apela para Nabókov:

Vladímir Nabókov - um escritor cuja perspicácia eu estimo muitíssimo - fala de uma intuição parecida do seguinte modo: é como uma quebra-cabeça que se arrumasse em um instante em seu cérebro com o próprio cérebro incapaz de observar como e por que as peças se encaixam, e você tem a sensação arrepiante de algo mágico, de uma ressurreição interna, como se um homem morto fosse revivido com uma poção brilhante preparada rapidamene em sua presença.

O narrador surgiria como uma espécie de possessão, que só é despertado por uma combinação única de condições e circunstâncias (…)

um signo do passado, da memória, do inconsciente coletivo, dos resíduos da experiência herdados sabe-se lá como? De qualquer modo, é uma voz habilidosa na narração que sente todos os perigos da emergência de uma história, junto com seus encalhes.

Algo nessa ideia da possessão me pegou de um jeito ruim. Essa coisa da voz na fronteira do Eu também porque já fui me questionando: quem saberia a fronteira do eu? Onde começamos e onde terminamos para se dizer que além de nós há uma outra coisa (?), esse tal homem morto, a nos encher os ouvidos?

Talvez o que tenha me antipatizado nessa ideia tenha sido deixar tudo meio que dentro do mistério de algo para além de nós, o que conversa muito com uma imagem que desgosto: a da autora tocada pelo Divino a receber a narrativa pronta, milagrosamente.

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